É curioso como passamos por alguns processos de luto sem se dar conta de que os estamos vivenciando.
Em minha experiência clínica com Brasileiros Expat, isto é, brasileiros que escolheram morar fora do país, vejo muitos deles se surpreender ao se perceberem em um processo de luto pela vida que escolheram deixar no Brasil. "Como posso estar sofrendo por algo que eu escolhi viver e por algo que escolhi deixar para trás?!"
Para além da saudade, do sentir falta dos amigos, da família, dos lugares que costumava frequentar, da referência social e cultural, existe uma perda estrutural interna muito importante que muitos podem ter dificuldade em identificar sozinhos. A falta de clareza do que está acontecendo dentro de si acaba por atrapalhar a identificação do processo de luto; ali, latente à nossa consciência primária.
Quando passamos por alguma mudança de vida grande, brusca, muito diferente ou impactante, como mudar de cidade ou país, mudar de emprego ou trocar de carreira profissional, ter um filho, terminar um casamento, o falecimento de um ente querido, a perda de uma amizade, e outras situações... Todas essas mudanças se caracterizam como uma perda que pode levar a um processo de luto. Afinal, passamos por outros tipos de luto que não seja aquele pelo falecimento de alguém.
O que pode ser tão importante quanto perder nossa rede de apoio e referências familiares?
Em muitos casos de brasileiros expat, existe essa perda estrutural interna que acaba por bagunçar a identidade pessoal, a ideia, a visão de si mesmo. Às vezes, parece que alguns recursos internos foram perdidos ou que o acesso a eles foram cortados. É sobre uma sensação de que agora parece não conseguir lidar com situações ou problemas que antes (quando morava no Brasil) não lhe exigia tanto.
De repente, se deslocar via transporte público passou a ser muito difícil... mas aqui no Brasil, trabalhava todos os dias de metrô! Perder os documentos pessoais e tirar a segunda via na sua cidade era um transtorno chato... Agora, parece que é um grande problema que desestruturou toda a sua vida. Aqui no Brasil, sempre teve facilidade com os estudos e nunca precisou se esforçar muito para ir bem na vida acadêmica... Mas, agora no exterior, sente a frustração de quem está "patinando" nos estudos ou no novo trabalho.
Às vezes, parece que nos preparamos mais para enfrentar as novas situações e desafios; não nos damos conta de que certas mesmas situações já vivenciadas vão nos exigir novas estratégias e recursos internos para administrá-las ou resolvê-las. De repente, o jeito que fazíamos as coisas, resolvíamos problemas e administrávamos as nossas crises e desafios agora já não parece ser suficiente. Diante de tanta necessidade de adaptabilidade, é como se a gente perdesse uma capacidade, uma habilidade de fazer ou lidar com algumas coisas, isto é, nossa resiliência.
A perda desse "algo" dentro de nós traz confusão, aquela sensação de estar perdido e desorganizado na vida. Vai se tornando um processo de luto existencial, invisível, silencioso e angustiante.
Portanto, se você se identificou com essas sensações e sentimentos, sendo ou não um brasileiro expat, olhe com cuidado e empatia para estes sinais de algo não está muito bem e busque um profissional que possa te ajudar a entender melhor o que está acontecendo dentro de você e pensar em novas formas de se reencontrar e seguir em frente.
Saiba mais sobre o meu trabalho com brasileiros expat no link abaixo.
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